domingo, 24 de janeiro de 2016

Um ano depois...

Algumas coisas mudaram depois daquele 23/01/2015 em que por uma constatação cruzada, descobri minha sorologia. Há exatamente um ano eu só pensava, quantos anos mais terei de vida?
Era uma sexta feira quando recebi a notícia, mas ainda esperava que meu próprio exame colhido na própria sexta a tarde, fosse liberado no fim de semana com o rótulo de "negativo". 

Esperei todo o sábado e nada do resultado sair, o laboratório informava  que tinha dado inconclusivo, e ainda não podia liberar, mas era suspeito demais ter vários dos sintomas da fase aguda, e o laboratório segurando um exame que normalmente saia no outro dia.

Só foi liberado de fato no dia 26/01 e na mesma data já havia agendada a consulta com o infectologista. Passei todo o fim de semana lendo sobre o assunto, e pensando em como seria de aí em diante.

Quase um ano depois, e posso dizer que algumas coisas mudaram. Passei sim pelas fases do "luto".
Negação... raiva... barganha...depressão...e finalmente aceitação.

Hoje tenho plena certeza que superei o episódio. Sei que não vou morrer disso e espero não ter complicações dos efeitos da medicação, nem fígados, nem rins, nem glicose, triglicerídeos... 

Pra minha surpresa aceitei a situação até rápido. Ler notícias atualizadas, pesquisar sobre a realidade da doença, ter um infectologista otimista e acessível, e participar de um grupo do blog jovemsoropositivo.com foi extremamente importante nessa aceitação. 

Durante mais de uma década tomei remédio antidepressivo, e por uma reação adversa do ARV com o antidepressivo, resolvi suspender o segundo, e para minha surpresa não tive recaída. Descobri que posso viver normalmente sem antidepressivo e hoje me sinto emocionalmente estável, talvez também pelo avanço da idade.

Já em relação ao ARV, que por conter o Efavirenz, me causa um terrível efeito colateral no sono. Durmo mal, descanso pouco, tenho sonos leves e pesadelos, o que me leva a passar mais tempo do que deveria na cama pra poder me sentir recuperado.

A solução que tomei e pareço estar me adaptando melhor a isso, é ter passado a tomar cada vez mais cedo da noite, retrocedendo horas da dose a cada dia, para hoje em dia tomar as 12h. Sinto um leve enjoo no trabalho por alguns minutos, mas que valeu a pena mudar de horário.
Não preciso mais ficar me preocupando se vou sair a noite, e ter de levar, ou voltar mais cedo pra casa só pra tomar. Tomo no almoço e pronto.

Meus exames como eu realmente desejei que acontecesse, sempre se mantiveram bons. Minha imunidade que não chegou a cair muito, pois como demostrou o western blot, era uma infecção bastante recente, me surpreendeu ao apontar um CD4 de 1998/mm³ no exame de janeiro/2016. Nunca vi alguém com CD4 tão alto, e chego a ficar constrangido com esse número, pois constantemente vejo pessoas com números de 200, 300, 400/mm³ e lutando para passar dos 500 mesmo há meses com os antirretrovirais. 

Como muitos relatos do que já li, não sou exceção sobre a vida afetiva/sexual depois do diagnóstico. Essa ficou completamente em segundo plano. Sei bem sobre as pesquisas recentes sobre a não transmissibilidade do indetectável, mas o resto da população não sabe, e o preconceito é muito grande. Sei que eu também o teria, e evitaria alguém soropositivo, por mais que fosse informado destes dados das pesquisas.

A academia que frequentei durante anos, nunca mais consegui passar mais uma semana indo. O diagnóstico coincidiu com uma época familiar meio caótica (fim de 2014), que já havia me feito perder peso por conta do estresse. E o estresse do diagnóstico (início de 2015) fez com que eu me mantivesse relativamente magro por vários meses, e levantado comentários sobre meu peso que em qualquer outra época eu nem ligaria, mas que me deixaram paranóico sempre que eu ouvia estar magro. Atualmente já no meu peso de uns dois anos atrás, porém sedentário, sempre ensaio voltar para academia.... mas coragem onde? 

Hoje eu sei que dá pra ter uma vida "biológica" praticamente normal mesmo sendo soropositivo indetectável, pois nem de longe se aparenta ser algo que se via há 20 anos atrás. Mas psicologicamente o abalo da infecção do vírus é imensa.

...E se faltar remédio? ...E se descobrirem e espalharem? ...E se eu me tornar resistente? ...E se eu começar ter efeitos colaterais?

São tantos "ses" que o melhor caminho que encontrei foi não pensar neles. É viver um dia de cada vez, e não esquecer da dose do meio dia, assim como era quando eu também tomava um antidepressivo, que agora foi substituído por um antirretroviral. 


4 comentários:

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  3. Acho que estou passando por tudo isso inicialmente o que voce passou. Tive sexo desprotegido na ultima semana de janeiro. Semana passada apareceram manchas pelo corpo todo esperando resultado dos exames. Senti pequena alteração nos nódulos da virilha lado esquerdo e no pescoço lado esquerdo. Rash cutânea só piora e tenho certeza que fui contaminado pelo hiv. Daqui 20 dias irei ao infectologista verificar os resultados. Léo salvador-ba

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